terça-feira, 29 de abril de 2025

Atividade Karl Marx

 https://g1.globo.com/economia/agronegocios/agro-de-gente-pra-gente/noticia/2025/04/29/por-que-o-brasil-tem-fome-se-e-um-grande-produtor-de-alimentos.ghtml


Leia a reportagem abaixo:


O Brasil é um grande produtor de alimentos, bate recordes anuais na colheita de grãos e é o maior exportador mundial de diversos produtos, como soja, café, carnes, açúcar. Ainda assim, tem gente que acorda sem ter certeza se vai comer.

Os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) mostram que 8,4 milhões de brasileiros passaram fome no triênio 2021-2023, o que representa 3,9% da população nacional.

É exatamente esse indicador que, desde 2021, mantém o Brasil no Mapa da Fome da ONU, de onde país já tinha conseguido sair em 2014, pela primeira vez.



Apesar disso, houve uma melhora em relação ao triênio 2020-2022, quando a fome atingia 4,2% dos brasileiros.


Mas por que o país convive ainda com essa contradição? Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que:


no Brasil, não falta alimentos, mas há muita gente sem dinheiro para comprar comida suficiente – o desemprego caiu, mas os preços dos alimentos têm subido bem acima dos salários;

alguns afirmam que a produção agropecuária tem se voltado mais à exportação do que ao abastecimento interno, e que isso precisa ser reequilibrado para garantir segurança alimentar no futuro;

outros discordam e afirmam que o modelo de produção do país tem dado conta tanto do mercado interno como do externo, e que aumentar a produção não vai tirar pessoas da fome;

as mudanças climáticas são, hoje, o principal risco para o desabastecimento.

o Brasil ainda tem locais com pouca ou nenhuma oferta de alimentos saudáveis, chamados de desertos alimentares.

O g1, inclusive, visitou, em março, um município do Piauí que convivia com a falta de alimentos frescos.


E mostrou como o plantio de hortaliças na região tem tirado pessoas da insegurança alimentar, quando não há acesso regular à alimentos de qualidade para uma vida saudável.

Qual é a diferença entre fome e insegurança alimentar


Graziano, que foi diretor-geral da FAO-ONU entre 2012 e 2019, coordenou o programa Fome Zero, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006).

“Há um grupo de políticas macroeconômicas que são as grandes responsáveis por erradicar a fome quando ela tem a proporção que tem no Brasil: ela é massiva, não é localizada e nem específica".

"Quem não ganha o salário mínimo, passa fome. Então, o que resolve é gerar emprego e melhorar a renda das pessoas”, diz Graziano.

Ele lembra que esse foi o caminho traçado pelo Brasil para sair do Mapa da Fome em 2014. Exemplo disso foram as políticas de valorização do salário mínimo, a criação do Bolsa Família, além de incentivos à agricultura familiar.


Graziano relaciona a volta da fome e do aumento da insegurança alimentar nos últimos anos justamente com a piora dos indicadores de emprego e renda, a partir da crise de 2014/2016.

Essa piora se estendeu até a pandemia.


Ele menciona também o esvaziamento de políticas voltadas para a segurança alimentar durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.


Alguns deles são a merenda escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), no qual o governo federal, os estados e municípios compram produtos de agricultores familiares para doar a escolas, hospitais e a pessoas em vulnerabilidade social.


Esse cenário levou 33 milhões de brasileiros à insegurança alimentar grave em 2022, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

Salários não acompanham inflação


Sílvia Helena de Miranda, pesquisadora do Cepea-USP, afirma que o desemprego começou a cair a partir do segundo trimestre de 2021.

Mas o problema é que os aumentos salariais não acompanharam a disparada da inflação ao longo dos anos.


Entre 2014 e 2024, os salários tiveram um aumento real (já com desconto da inflação) de 5%, enquanto a inflação para a baixa renda subiu 85,8%, e os preços dos alimentos dispararam 116,7%


Os dados de preços citados por Miranda são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo IBGE.


“Logo, para a população de menor renda, as condições econômicas de acesso aos alimentos pioraram”, diz Sílvia.

Ela lembra que as famílias mais pobres gastam uma proporção muito maior da renda com alimentos do que as famílias de classe mais elevada.


Comida e commodities


Apesar de a renda ser um pilar fundamental, parte dos especialistas aponta que é preciso repensar o modelo produtivo do Brasil levando em conta a segurança alimentar das próximas gerações.

É o que afirma Elisabetta Recine, presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), um órgão consultivo do governo federal.


“Quando se fala se fala em supersafra de grãos no Brasil, se fala, basicamente, de soja e milho, que são voltados para exportação", diz Recine.

"Não é supersafra de feijão, que a gente come, que é voltado para o mercado interno”, afirma.


Hoje, 88% dos grãos que o Brasil colhe por ano correspondem a soja e milho, mostram dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).


Os dois grãos são commodities, ou seja, matérias-primas negociadas em dólar em bolsas de valores internacionais e exportadas como ração para bovinos, suínos e frangos.


Miranda, do Cepea, observa que a soja e o milho não se limitam ao mercado externo, e que também são necessários para a produção de ovos, leite, óleos, carne de frango e de suínos, que integram a cesta básica do consumidor de baixa e média renda no Brasil.


Expansão da soja, queda de arroz e feijão


Em 19 anos, a área plantada de soja cresceu 108%, e a de milho, 63%. Na contramão, o plantio de arroz diminuiu 43%, e o de feijão, 32%, diz a Conab.


Alguns dos motivos que impulsionaram essas mudanças foram o aumento dos custos de produção e a menor rentabilidade para os produtores de arroz e feijão, em comparação com os de soja e milho.


Apesar disso, o consumo de arroz e feijão diminuiu, e a eficiência dessas colheitas aumentou, ou seja, o produtor passou a colher mais por área do que há 19 anos. Com isso, a produção atual tem conseguido dar conta da demanda.

Mas Recine defende um reequilíbrio dessa cadeia de produção, com investimentos públicos no plantio de arroz e feijão, que podem ser feitos via formação de estoques, crédito público e assistência técnica para pequenos produtores.


“Quanto mais basearmos a nossa produção em produtos destinados ao mercado externo, mais risco corremos, pois as regras do mercado e do comércio internacional não estão em nossas mãos"


"A variação cambial (dólar) oscila por questões geopolíticas. A produção de commodities se organiza conforme a demanda e preços internacionais”, destaca presidente do Consea.

Para ela, aumentar a oferta de alimentos básicos pode ainda contribuir para uma redução de preços dos alimentos.


Capacidade de abastecimento


Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), reforça que a insegurança alimentar no Brasil não tem a ver com problemas de abastecimento, e que aumentar a oferta de comida não vai tirar pessoas da fome.

"Para melhorar a nutrição do brasileiro, é preciso melhorar a renda dele", destaca.

"Não só a comida ficou mais cara, como também o transporte, o custo de vida em geral. Hoje, temos muito mais pessoas entrando nos programas sociais do que saindo. E isso é um problema. Não só deste governo, mas de longa data", diz Lucchi.

"Nós passamos por pandemia, por greve de caminhoneiros, sem desabastecer nenhuma região. Claro que tivemos incremento de preço. Frete ficou mais caro. Insumo chegou mais caro. Mas não faltou alimento no Brasil", reforça.

Para o diretor da CNA, é errado também afirmar que o Brasil tem uma cultura mais voltada para a exportação


Lucchi comenta ainda que um dos riscos atuais para crises de desabastecimento são as mudanças climáticas, e que, ao longo dos anos, o Brasil tem desenvolvido sementes resistentes a secas e animais adaptados a temperaturas extremas.

Mas Miranda, do Cepea-USP, acrescenta que o país vai precisar desenvolver novas pesquisas para lidar com esse cenário.


"Os eventos climáticos extremos – que estão se tornando mais frequentes – acabam fazendo com que os modelos de previsão existentes sejam insuficientes para garantir a manutenção dos níveis de produção que já alcançamos", afirma.

"Logo, um conjunto novo de políticas de pesquisa e inovação, agrícolas, industriais, sanitárias, macroeconômicas serão necessárias para evitar ou mitigar o risco de desabastecimento", acrescenta.

'Desertos alimentares'


Apesar de o Brasil ser um grande produtor agrícola, a presidente do Consea observa que, em algumas regiões do país, há locais com pouca ou nenhuma oferta de alimentos frescos, como verduras, frutas, legumes.

São os chamados "desertos alimentares".


“São regiões em que as pessoas precisam percorrer longas distâncias para ter acesso à alimentação diversificada, saudável”, afirma Recine.

Entre 2023 e 2024, em torno de 25 milhões de brasileiros residiam nesses locais. Desses, 6,7 milhões têm baixa renda ou estão em situação de pobreza, aponta dados do Ministério do Desenvolvimento Social.


O g1 conheceu uma dessas regiões, em Betânia do Piauí, que sempre conviveu com a falta de alimentos frescos. Veja no vídeo abaixo como agricultores estão mudando essa situação.


Para Recine, é importante que o governo invista na agricultura familiar nessas regiões, já que esses tipos de produtores são responsáveis por 62% da produção de hortaliças no Brasil.

“Se há alimentos que falta produzir são frutas, verduras e legumes. Não falta produzir arroz e feijão", diz Graziano, do Instituto Fome Zero.

Ele comenta que o consumo de hortaliças e frutas no Brasil não passa de um terço do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 400 gramas por pessoa por dia.


E que a falta de acesso a uma alimentação saudável é um dos principais problemas da insegurança alimentar hoje entre os mais pobres.


Isso porque o consumo de ultraprocessados tem sido relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, obesidade.


Brasil vai sair do Mapa da Fome?


O governo federal tem a meta de sair do Mapa da Fome da ONU em 2026.


Os últimos dados do IBGE mostram que já houve uma redução considerável da insegurança alimentar grave no Brasil, de 33 milhões em 2022, para 8 milhões em 2023.


O representante da FAO-Brasil, Jorge Meza, comenta que isso foi resultado de uma série de políticas, com destaque para o relançamento do Bolsa Família, em 2023, que passou a conceder benefícios adicionais por criança nas famílias, por exemplo.

“Atualmente, esse programa alcança 55 milhões de pessoas”, diz.


Ele cita ainda a merenda escolar, “que atende 40 milhões de alunos”, e o aumento dos recursos do PAA.


“As 8 milhões de pessoas que ainda restam estão em extrema vulnerabilidade social. São pessoas que não foram captadas pela assistência social, não tiveram acesso ao Bolsa Família, pertencem a famílias com crianças fora da escola ou estão em situações de trabalho precário e informal”, explica Recine.

Recine aponta que, para tirar essas pessoas da fome, demandará mais articulação do governo para incluí-las nas políticas públicas.


Para isso, uma das metas do governo federal é ampliar o número de pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Isso porque é preciso estar cadastrado nesse sistema para acessar programas assistenciais.

O problema é que nem todos conhecem esse caminho. E é por isso que o governo precisa fazer uma busca ativa, ou seja, ir atrás dessas pessoas.


Até 2027, o governo federal tem a meta de incluir 80% dos habitantes em risco de insegurança nesse cadastro. É o que prevê o 3º Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, aprovado em março.


Nele, o governo estipula inúmeras estratégias para reduzir a fome, incluindo o aumento de agricultores beneficiados pelo PAA de 85 mil, em 2025, para 95 mil em 2027.

Fonte: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/agro-de-gente-pra-gente/noticia/2025/04/29/por-que-o-brasil-tem-fome-se-e-um-grande-produtor-de-alimentos.ghtml


1. De acordo com a teoria de Karl Marx, a persistência da fome no Brasil, um grande produtor de alimentos, pode ser interpretada como uma manifestação de qual conceito fundamental?

a) Escassez natural de recursos. 

b) Ineficiência do mercado interno. 

c) Contradição inerente ao sistema capitalista. 

d) Falta de políticas públicas adequadas.

Justificativa da 1: à primeira vista, a falta de políticas públicas adequadas parece ser uma explicação plausível para a persistência da fome. No entanto, dentro da estrutura teórica de Karl Marx, essa explicação é considerada superficial e não aborda a raiz do problema. Veja por quê:

  • As políticas públicas são um reflexo da estrutura social e econômica: Para Marx, o Estado e suas políticas não são entidades neutras pairando sobre a sociedade. Eles são, em grande medida, um instrumento da classe dominante (a burguesia) para manter a ordem social e econômica existente. Mesmo políticas que parecem beneficiar os trabalhadores podem ser vistas como concessões táticas para evitar uma instabilidade maior no sistema.
  • A "falta de políticas públicas" não surge do nada: Na perspectiva marxista, a ausência ou inadequação de políticas públicas que garantam o acesso à alimentação para todos não é um erro acidental. Ela está ligada às prioridades do sistema capitalista, onde a busca pelo lucro e a acumulação de capital frequentemente se sobrepõem às necessidades sociais básicas. Se a produção está majoritariamente voltada para a exportação, gerando mais lucro para os grandes produtores, as políticas tendem a favorecer essa dinâmica.
  • A contradição é mais fundamental: Marx argumentaria que mesmo com políticas públicas teoricamente "adequadas" dentro do sistema capitalista, a contradição fundamental entre a produção abundante e a distribuição desigual persistiria em alguma medida. Isso porque a lógica do sistema não é atender às necessidades humanas em primeiro lugar, mas sim gerar lucro.
  • Reformas versus revolução: Embora Marx reconhecesse que lutas por reformas (como melhores políticas públicas) são importantes, ele as via como limitadas dentro da estrutura capitalista. A solução fundamental, para ele, envolveria uma transformação mais profunda da estrutura social e econômica.

Em resumo, enquanto a falta de políticas públicas adequadas é um fator imediato e visível que contribui para a fome, a análise marxista busca uma explicação mais profunda, enraizada nas contradições inerentes ao próprio sistema capitalista. A inadequação das políticas públicas seria, portanto, um sintoma dessas contradições, e não a causa primordial na perspectiva de Marx.

2. A reportagem aponta que, apesar da produção agrícola voltada para a exportação, o problema da fome no Brasil está ligado à falta de poder de compra da população. Como essa situação se relaciona com o conceito marxista de alienação?

a) Demonstra a autonomia do trabalhador em relação ao mercado global. 

b) Ilustra a separação entre o produtor da riqueza (trabalhador) e o acesso a essa riqueza. 

c) Reflete uma distribuição equitativa dos lucros da produção agrícola. 

d) Sinaliza uma integração bem-sucedida do Brasil na economia mundial.

3. A alegação de que o modelo de produção agrícola brasileiro atende tanto ao mercado interno quanto ao externo, e que aumentar a produção não resolverá a fome, confronta diretamente qual aspecto da ideologia burguesa, segundo Marx?

a) A defesa da intervenção estatal na economia. 

b) A crença na capacidade ilimitada do mercado de solucionar problemas sociais. 

c) A naturalização da pobreza como um fenômeno inevitável. 

d) A valorização da agricultura familiar em detrimento do agronegócio.

4. A reportagem menciona que a valorização do salário mínimo e programas como o Bolsa Família contribuíram para a saída do Brasil do Mapa da Fome em 2014. Sob a perspectiva marxista, essas políticas representam:

a) Uma concessão da burguesia para evitar uma revolução proletária. 

b) A plena superação das desigualdades estruturais do capitalismo. 

c) Medidas paliativas que não alteram a lógica fundamental da exploração. 

d) Um exemplo de como o capitalismo pode ser humanizado sem transformações radicais.

5. A expansão da produção de commodities como soja e milho em detrimento de alimentos básicos como arroz e feijão pode ser analisada, sob a ótica marxista, como um reflexo de:

a) Uma estratégia eficiente para garantir a segurança alimentar global. 

b) A priorização dos interesses do capital (lucro com exportação) sobre as necessidades da população. 

c) Uma adaptação natural às mudanças nos hábitos alimentares da população brasileira. 

d) Uma consequência inevitável das vantagens comparativas do Brasil no mercado internacional.

6. A existência de "desertos alimentares" no Brasil, áreas com pouca ou nenhuma oferta de alimentos saudáveis, revela, segundo a teoria marxista:

a) Uma falha isolada na logística de distribuição de alimentos. 

b) A incapacidade do Estado de planejar eficientemente o abastecimento. 

c) Uma manifestação territorial das desigualdades sociais e do acesso diferenciado aos bens essenciais. 

d) Um problema cultural de certas regiões que não valorizam a produção local.

Gabarito:

  1. c)
  2. b)
  3. b)
  4. c)
  5. b)
  6. c)

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