O
Gato de Botas ou O Mestre Gato
Charles Perrault
1º Parágrafo - Toda a fortuna que um moleiro deixou para os três filhos foi seu
moinho, seu asno e seu gato. A partilha foi feita imediatamente e
não foi preciso chamar o tabelião nem o procurador, que logo teriam
devorado o parco patrimônio. O filho mais velho ficou com o moinho, o
segundo com o asno, e para o caçula sobrou o gato.
Vocabulário: moleiro – dono de moinho; asno –
jumento; partilha – divisão; tabelião – escrivão que comprova documentos; parco
– pouca quantidade.
Resumo: Um homem deixou um moinho para o
filho mais velho, um asno para o filho do meio e um gato para o caçula.
2º Parágrafo - Este último não se conformava de ter um quinhão tão mesquinho.
“Meus irmãos”, dizia, “poderão ganhar a vida honestamente trabalhando juntos.
Quanto a mim, quando tiver comido o meu gato e feito luvas com a sua pele, só
me restará morrer de fome.”
Vocabulário: quinhão – parte da herança;
Resumo: O caçula ficou insatisfeito.
3º Parágrafo - O gato, que escutou essa fala sem se dar por achado, disse-lhe com ar
grave e ponderado: “Não se aflija, meu amo, basta que me
dê um saco e mande fazer para mim um par de botas para que eu possa andar pelo
mato, e verá que o pedaço que lhe coube na herança não é tão mal assim.”
Vocabulário: ponderado – pensativo; aflição – preocupação; meu
amo – meu senhor;
Resumo: O gato pediu um saco e um par de botas para
provar seu valor.
4º§ -Embora não se fiasse muito naquela conversa, o amo do gato já o
vira usar tantas artimanhas para pegar ratos e camundongos
(pendurando-se de cabeça para baixo pelos pés, ou escondendo-se na farinha para
se fazer de morto) que teve um fio de esperança de ser socorrido por ele na sua
desgraça.
Vocabulário: fiar – confiar; artimanhas –
truques
Resumo: O amo sabia que seu gato era
esperto e teve esperanças de que ele renderia uma boa herança.
5º§ - Quando recebeu o que pedira, o gato calçou garbosamente
as botas. Depois meteu no saco farelo e alfaces e o pendurou às costas,
segurando os cordões com as duas patas da frente. Partiu então para um bosque
onde havia muitos coelhos. Lá chegando, esticou-se como se estivesse morto e
esperou que algum coelho jovem, ainda inocente das perfídias deste
mundo, viesse se enfiar no seu saco para comer o farelo e as alfaces.
Vocabulário: garboso – vaidoso; perfídia –
cilada
Resumo: O gato foi ao bosque caçar
coelhos.
6º§ - Mal se deitara, foi premiado com o sucesso: um
jovem coelho entrou no seu saco, e Mestre Gato, puxando imediatamente os
cordões, o agarrou e matou sem misericórdia. Todo orgulhoso de sua proeza,
foi à casa do rei e pediu para lhe falar. Fizeram-no subir aos aposentos de Sua
Majestade e, após entrar e fazer uma profunda reverência, o gato disse:
Vocabulário: proeza – grande feito;
7§ - “Trago
comigo um coelho da floresta com que o senhor marquês de Carabá (foi o nome
que, de veneta, deu ao amo) me encarregou de vos presentear da parte
dele.”
Vocabulário: veneta – repentinamente.
8§ - “Diga ao
seu amo”, respondeu o rei, “que lhe agradeço e que ele me dá um grande prazer.”
Resumo do 6, 7 e 8 parágrafos: O gato matou o coelho e com ele presenteou o rei que lhe agradeceu.
9§ - Mais uma vez, o gato foi se esconder num campo de
trigo, mantendo sempre seu saco aberto. E quando duas perdizes se enfiaram
nele, puxou os cordões e capturou-as. Em seguida foi dá-las de presente ao rei,
como fizera com o coelho da floresta. Mais uma vez o rei recebeu com prazer as
duas perdizes e mandou que dessem uma gratificação ao bichano.
Vocabulário: perdizes – aves de pequeno porte
semelhantes à galinhas;
Resumo: O gato caçou novamente e
presenteou o rei que lhe agradeceu de novo.
10§ - Assim, por dois ou três meses, o gato continuou a
levar para o rei, de tempos em tempos, uma caça em nome de seu amo. Um dia,
tendo ficado sabendo que o rei sairia a passeio pela margem do rio com a filha,
a mais bela princesa do mundo, ele disse a seu amo: “Se quiser seguir meu
conselho, sua fortuna está feita; basta que vá se banhar no rio no lugar que
lhe mostrarei. E deixe o resto por minha conta.”
Resumo: O gato ficou sabendo que a
princesa passearia perto do rio e orientou que seu dono fosse lá se banhar a
fim de arranjar um encontro.
11§ - O marquês de Carabá fez o que gato lhe
aconselhava, sem saber para que aquilo poderia servir. Enquanto ele se banhava,
o rei passou por ali, e o gato se pôs a gritar a plenos pulmões: “Socorro!
Socorro! Meu senhor, o marquês de Carabá, está se afogando!”
12§ - A esse grito, o rei enfiou a cabeça pela janela da
carruagem e, ao reconhecer o gato que tantas vezes lhe levara caça, ordenou a
seus guardas que fossem a toda pressa socorrer o senhor marquês de Carabá.
14§ - Enquanto os guardas tiravam o pobre marquês do
rio, o gato se aproximou da carruagem e disse ao rei que, enquanto seu amo se
banhava, ladrões tinham levado suas roupas, por mais que ele tivesse gritado
“Pega ladrão!” com todas as suas forças. (Na verdade, o maroto as escondera
debaixo de uma pedra grande.)
Vocabulário: maroto – malandro.
15§ - Imediatamente o rei ordenou aos servidores
encarregados de seu guarda-roupa que fossem buscar um de seus mais belos trajes
para o senhor marquês de Carabá. Depois o rei fez a ele mil cumprimentos, e
como as belas roupas que acabara de ganhar realçavam seu semblante agradável
(pois era bonito e bem constituído), a filha do rei o achou muito do seu
agrado. Mal o marquês de Carabá lhe dirigira dois ou três olhares muito
respeitosos, e um pouco ternos, ela ficou perdida de amor.
Resumo do 11, 12, 13, 14, e 15 parágrafos: O gato finge que seu dono está em apuros no rio e
consegue a atenção do rei e que este empreste roupas ao seu amo que, com os
belos trajes reais, chama a atenção da princesa que se apaixona por ele.
16§ - O rei quis que o marquês entrasse na carruagem e
fosse com eles passear. O gato, encantado de ver que seu plano começava a dar
certo, seguiu na frente e, encontrando alguns camponeses que ceifavam num
prado, disse-lhes: “Boa gente que está ceifando, se não disserem ao rei que o
prado que estão ceifando pertence ao senhor marquês de Carabá, serão todos
picados miudinho como recheio de linguiça.”
Vocabulário: prado – campo.
Resumo: O gato ameaça camponeses para
que digam ao rei que o campo em que trabalham pertencem ao seu dono.
17§ - E de fato o rei perguntou aos camponeses a quem
pertencia o prado que ceifavam. “Pertence ao senhor marquês de Carabá”,
responderam todos em coro, porque a ameaça do gato os amedrontara.
18§ - “Tem aí uma bela herança”, disse o rei ao
marquês de Carabá.
19§ - “Como vedes, Majestade”, respondeu o marquês,
“é um prado que não deixa de produzir com abundância todos os anos.”
Resumo do 17, 18 e 19 parágrafos: O rei fica admirado com as supostas posses do Marquês de Carabá, o amo
do gato.
20§ - Mestre Gato, que seguia sempre à frente, encontrou
um grupo de homens que colhiam e lhes disse: “Boa gente que está colhendo, se
não disserem ao rei que todo este trigo pertence ao senhor marquês da Carabá,
serão todos picados miudinho como recheio de linguiça.”
21§ - O rei, que passou instantes depois, quis saber a
quem pertencia todo o trigo que via. “Pertence ao marquês de Carabá”,
responderam os colheiteiros, e mais uma vez o rei se congratulou com o marquês.
Resuma o 20 e 21 parágrafos:_________________________________________________________________________
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22§ - O gato, que ia adiante da carruagem, dizia sempre
a mesma coisa a todos que encontrava. E o rei estava pasmo com as riquezas do
senhor marquês de Carabá. Finalmente Mestre Gato chegou a um belo castelo que
pertencia a um ogro, o mais rico que jamais se viu, pois todas as terras por
onde o rei passara eram parte de seu domínio. O gato, que tivera o cuidado de
se informar sobre quem era esse ogro e do que era capaz, pediu uma audiência,
alegando que não quisera passar tão perto de um castelo sem ter a honra de
prestar suas homenagens ao castelão.
Vocabulário: pesquise o que é um ogro:__________________________________________________________________
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23§ - O ogro o recebeu com a cortesia de que um ogro é
capaz e o convidou a sentar.
24§ - “Garantiram-me”, disse o gato, “que você tem o
dom de se transformar em todo tipo de animal, que é capaz, por exemplo, de se
transformar num leão ou num elefante.”
25§ - “É
verdade”, respondeu o ogro bruscamente. “Para lhe dar uma mostra, vou me transformar
num leão.”
26§ - O gato ficou tão apavorado de ver um leão diante
de si que num instante estava nas calhas do telhado – não sem dificuldade e
perigo, por causa das botas, que não eram grande coisa para se caminhar sobre
telhas.
27§ - Algum tempo depois, tendo visto que o ogro voltara
à sua primeira forma, o gato desceu e confessou que ficara aterrorizado.
Resuma o 23, 24, 25, 26 e 27
parágrafos:________________________________________________________________
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28§ - “Garantiram-me
ainda,” disse o gato, “mas não pude acreditar, que você também tem o poder de
tomar a forma dos animais mais pequeninos, que pode se transformar por exemplo
num rato, num camundongo. Confesso que isso me parece totalmente impossível.”
29§ - “Impossível?”
replicou o ogro. “Veja só.” E no mesmo instante se transformou num camundongo
que se pôs a correr pelo assoalho. Quando viu isso, o gato se jogou em cima
dele e o comeu.
Resuma o 28 e 29 parágrafos:_________________________________________________________________________
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30§ - Nesse meio tempo o rei, ao passar, viu o belo
castelo do ogro e quis visitá-lo. Ao ouvir o ruído da carruagem passando sobre
a ponte levadiça, o gato correu para a frente do castelo e disse ao rei:
31§ - “Seja
bem-vinda, Vossa Majestade, ao castelo do senhor marquês de Carabá.”
32§ - “Mas
como, senhor marquês!” exclamou o rei. “Também este castelo lhe pertence? Não
pode haver nada de mais bonito que este pátio e estas construções que o cercam.
Vejamos o interior, por favor.”
33§ - O marquês deu a mão à jovem princesa e os dois
seguiram o rei escada acima. Quando entraram no grande salão, encontraram
servida uma magnífica refeição. O ogro a mandara preparar para uns amigos que
deveriam visitá-lo naquele mesmo dia, mas eles, sabendo que o rei estava lá,
não haviam ousado entrar.
34§ - O rei, encantado com as boas qualidades do senhor
marquês de Carabá – qualidades pelas quais sua filha estava perdidamente
apaixonada – e vendo as riquezas que ele possuía, disse-lhe, depois de ter
tomado cinco ou seis taças: “Depende somente de ti, marquês, vir a ser meu
genro.”
35§ - O marquês, fazendo profundas reverências, aceitou
a honra que lhe fazia o rei; e naquele dia mesmo casou-se com a princesa.
36§ - O gato tornou-se um grande senhor e passou a só
correr atrás de camundongos para se divertir.
Resuma o 30, 31, 32, 33, 34, 35,
e 36 parágrafos:________________________________ __________________________
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MORAL
Por mais conveniente que seja
Uma bela herança receber,
Do avô, do pai ou do tio,
E depois de juros viver,
Para os menos bem-nascidos
A habilidade e a perícia
Podem suprir bens recebidos.
1) Sobre a identidade do Marquês de Carabá,
assinale a alternativa INCORRETA:
A) Ele é o filho caçula do moleiro.
B) Ele é o amo do gato.
C) Ele é o rei.
2) Sobre as características do gato de botas
assinale a alternativa correta:
A) Ele é ardiloso.
B) Ele é acomodado.
C) Ele é medroso.
3) Sobre a moral da história assinale a
alternativa correta:
A) Somente o trabalho duro produz riqueza.
B) A retória e a oratória convencem as pessoas.
C) O caráter é mais importante que a beleza.
4) Qual dos ditados populares abaixo pode
servir como a moral da história?
A) Beleza não põe a mesa.
B) Quem tem boca vai a Roma.
C) O orgulho precede a queda.
5) Qual a estratégia do gato para provar a seu
dono que ele foi a melhor parte da herança?
A) Para o gato todos são interesseiros. Então,
procurou fazer parecer que seu dono era rico para que fosse aceito como genro
pelo rei e ficasse rico de verdade se casando com a princesa.
B) O gato tinha por objetivo que seu amo fosse
feliz com um bom casamento, independentemente da riqueza.
6) Sobre os procedimentos que o gato utilizou
para alcançar sucesso para o seu dono, comente aspectos positivos e negativos.
Positivos:_________________________________________________________________________________________
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Negativos:
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