Indústria Cultural
Antigamente, a arte procurava expressar
a realidade, as emoções e, até mesmo, o abstrato. A arte era marcada enquanto
tal por carregar consigo tanto um conteúdo quanto uma forma que eram uma
expressão de mundo, únicos e originais. O observador era levado a contemplar,
meditar e elevar o espírito. Contudo, em geral, a arte era voltada apenas para
a nobreza, que tinha acesso tanto físico quanto a bagagem cultural necessária
para apreciá-la.
Com o advento dos meios de comunicação
de massa (Mass Media), a pode se beneficiar da imprensa, do rádio e da
televisão. Agora, o observador não precisava mais viajar até a Capela Sistina,
no Vaticano, para contemplar o teto pintado por Michelângelo, mas poderia
visualizá-lo numa revista, sentado no sofá de casa. O mesmo ocorreu com as
orquestras e óperas. Ao invés de salas de concerto ou de ópera a pessoa poderia
ouvir através do radinho de casa.
Contudo, permaneciam diferenças entre
este novo público e as elites. A primeira é que a qualidade e o impacto da arte
através de meios de comunicação de massa não é o mesmo que pessoalmente. A
segunda é que, enquanto as elites possuíam com suas riquezas a educação
necessária para a apreciação, faltava para as classes populares este capital cultural.
Diante disso, para atingir e lucrar com
o grande público, a arte transmitida pelos meios de comunicação de massa passou
por transformações radicais. Por exemplo, o objetivo passou da contemplação
para o entretenimento alienante. Além disso, a originalidade foi substituída
por fórmulas de sucesso, repetitivas e previsíveis.
Em suma, com os meios de produção e
comunicação de massa, a arte entrou na lógica do capital e passou a ser
divulgada sob a égide do lucro com uma qualidade duvidosa e consumida irrefletidamente
pelas multidões, forjando nelas ideologias que eram falsas representações da
realidade.
Esse fenômeno foi analisada pela Escola
de Frankfurt, na Alemanha. Os autores que cunharam o termo “indústria cultural”
para conceituá-lo foram Theodor Adorno e Max Horkheimer. Leia abaixo uma
questão da UFPR a respeito.
UFPR2016/2017 - Leia os fragmentos abaixo do livro
intitulado “A indústria cultural” escrito por Theodor W. Adorno e Max
Horkheimer:
Tudo indica que o termo “indústria cultural” foi empregado
pela primeira vez no livro Dialética do esclarecimento, que Horkheimer e eu
[Adorno] publicamos em 1947, em Amsterdã. Em nossos esboços, tratava-se do
problema da cultura de massa. Abandonamos essa última expressão para
substituí-la por “indústria cultural”, a fim de excluir de antemão a
interpretação que agrada aos advogados da coisa; estes pretendem, com efeito,
que se trata de algo como uma cultura surgindo espontaneamente das próprias
massas, em suma, da forma contemporânea da arte popular. Ora, desta arte a
indústria cultural se distingue radicalmente. (ADORNO, 1986, p. 92). [...] As
mercadorias culturais da indústria se orientam, como disseram Brecht e Suhrkamp
há já trinta anos, segundo o princípio de sua comercialização e não segundo seu
próprio conteúdo e sua figuração adequada. Toda a prática da indústria cultural
transfere, sem mais, a motivação do lucro às criações espirituais. A partir do
momento em que essas mercadorias asseguram a vida de seus produtores no
mercado, elas já estão contaminadas por essa motivação. (ADORNO, 1986, p. 92)
[...] O que na indústria cultural se apresenta como um progresso, o
insistentemente novo que ela oferece permanece, em todos os seus ramos, a
mudança da indumentária de um sempre semelhante; em toda parte a mudança
encobre um esqueleto no qual houve tão poucas mudanças como na própria
motivação do lucro desde que ela ganhou ascendência sobre a cultura. (ADORNO,
1986, p. 94) […] A satisfação compensatória que a indústria cultural oferece às
pessoas ao despertar nelas a sensação confortável de que o mundo está em ordem
frustra-as na própria felicidade que ela ilusoriamente lhes propicia. O efeito
do conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistificação, a de um
anti-iluminismo; […] Ela impede a formação de indivíduos autônomos,
independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. Mas estes
constituem, contudo, a condição prévia de uma sociedade democrática, que não
poderia salvaguardar e desabrochar senão através de homens não tutelados.
(ADORNO, 1986, p. 99) (ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In: COHN,
Gabriel (org.). Adorno, Theodor W. São Paulo: Ática, 1986.)
1. Por que Adorno substituiu a expressão
“cultura de massa” por “indústria cultural”?
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2. Segundo o texto, o que orienta a
produção industrial da cultura? Qual a motivação da indústria cultural?
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3.Leia
a frase a seguir: “O que na indústria cultural se apresenta como um progresso,
o insistentemente novo que ela oferece permanece, em todos os seus ramos, a
mudança da indumentária de um sempre semelhante; em toda parte a mudança
encobre um esqueleto no qual houve tão poucas mudanças como na própria motivação
do lucro desde que ela ganhou ascendência sobre a cultura”. Em outras palavras,
qual a característica marcante da indústria cultural aí expressa?
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4. Segundo o texto, a indústria cultural
contribui para uma democracia efetiva na garantia dos direitos dos cidadãos?
Justifique sua resposta.
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