domingo, 14 de abril de 2024

ATIVIDADE DE SOCIOLOGIA: O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL

 O conceito democracia racial foi cunhado pelo médico e antropólogo Arthur Ramos, mas é comumente associado ao sociólogo Gilberto Freyre. Isso porque, em sua obra “Casa Grande e Senzala” (1933), Freyre foi um grande propagador da ideia de democracia racial ao defender que, ainda que a colonização tenha sido marcada pela imposição dos valores europeus, a grande miscigenação no Brasil teria contribuído para proporcionar uma relação menos conflituosa entre as raças (…) o Brasil estava buscando elementos que constituiriam a sua identidade nacional. Então, o discurso de um país miscigenado e harmonioso, onde o convívio era tolerante, serviu como meio de promover essa ideia de coesão e identidade nos anos 1930.


“O problema é que essa teoria desconsidera a condição inicial de exploração entre negros e brancos, que produziu relações desiguais ao longo do tempo. E o passado de abuso, submissão, exploração econômica e imposição cultural não foi completamente superado, portanto, essa ideia acabaria contribuindo para camuflar as desigualdades raciais”, diz Laila Antunes, professora de História.


A partir desse “mito da democracia racial” – termo cunhado pelo sociólogo Florestan Fernandes –, foi se construindo uma visão de que não existiria racismo no Brasil. Diferentemente de outros países que institucionalizaram leis segregacionistas (Estados Unidos e África do Sul, por exemplo), em tese, o Brasil não teria adotado práticas discriminatórias. Esse discurso também contribuiu para inibir o debate sobre a situação de exclusão na qual a população negra se encontrava e as suas reivindicações durante muito tempo. Afinal, se negros e brancos vivessem em uma situação de igualdade, não seria necessária uma reparação histórica ou questionamentos sobre a estrutura da sociedade.


“As desigualdades entre brancos e negros no Brasil ainda são enormes. A desigualdade salarial, a desigualdade de oportunidades, o acesso à escolarização de qualidade, a representação política e midiática, as condições de moradia, dentre outros aspectos, revelam a distância para uma efetiva ‘democracia racial’”, explica Renê Araújo, professor de Sociologia.


As consequências da persistência do mito para a sociedade


Em uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realizada em 1988, ano de centenário da abolição, 97% dos entrevistados afirmaram que não tinham preconceito. Porém, 98% desses entrevistados revelaram ter conhecimento de alguém ou alguma situação de discriminação racial. Sobre o levantamento, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz comentou, em uma entrevista à Revista Fapesp, que “a conclusão informal era que todo brasileiro parece se sentir como uma ‘ilha de democracia racial’, cercado de racistas por todos os lados.”


E como é possível enfrentar algo (o racismo) que muitos acreditam não ser existente? Ou que só enxergam o racismo cometido pelos outros, nunca por si? Assim, a ideia da democracia racial contribui para o racismo “disfarçado” presente no Brasil, pois, além de dificultar a compreensão do problema, contribui para a manutenção do mesmo.


“É preciso lembrar que existe um conjunto de práticas que viabilizam a manutenção da desigualdade racial no Brasil, afinal ter tido um passado colonial escravista com a entrada forçada de cerca de 4 milhões de africanos teve impactos que jamais foram reparados. A própria abolição da escravatura em 13 de maio de 1888 não trouxe nenhuma medida de indenização ou plano de equiparação social, deixando uma dívida histórica”, completa a professora Laila Antunes. Texto adaptado. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/como-o-mito-da-democracia-racial-perpetua-o-racismo-no-brasil. Acesso: 14 abr. 2024.

Questões:


1.Analise a perspectiva de Gilberto Freyre sobre a democracia racial no Brasil, conforme descrito no texto. Como suas ideias foram influentes na construção desse mito?

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2.Explique como o mito da democracia racial contribuiu para camuflar as desigualdades raciais no Brasil, conforme descrito no texto.

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3.Analise as consequências da persistência do mito da democracia racial para a sociedade brasileira, conforme descrito no texto.

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4.Como a história colonial do Brasil influenciou a formação do mito da democracia racial, de acordo com as informações apresentadas no texto?

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