terça-feira, 22 de outubro de 2024

SOCIOLOGIA DA DROGA

 "A falta de perspectiva de inserção no mercado de trabalho facilita a prática de aliciamento de menores no crime". A afirmação é da professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Grillo. Coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), ela conversou com a reportagem do jornal A Tribuna após quatro menores de idade serem presos por ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas e um ser morto em Niterói e Maricá entre os dias 7 e 14 de maio. A socióloga afirma que a idade média de ingresso no crime é de 13 anos e 6 meses de idade, de acordo com relatório da Unicef. Ela observou em seus trabalhos com criminosos do Comando Vermelho, que a maioria dos traficantes haviam ingressado no crime quando ainda crianças ou adolescentes. "É muito raro que alguém ingresse no tráfico de drogas quando já adulto. É um ingresso muito precoce, em uma idade em que os meninos ainda não têm autonomia e formação para tomar suas decisões. Eles não estão sendo devidamente protegidos".

Os motivos, segundo a especialista, são vários. São famílias com pais que precisam se ausentar por muito tempo para trabalhar, com longas jornadas de trabalho e longos deslocamentos entre o trabalho e a casa. Além disso, faltam escolas em tempo integral e atividades extracurriculares. Há também a necessidade de complementação da renda familiar. Carolina defende que são necessárias soluções de ordem econômica para que as famílias tenham condições de prover o sustento de seus filhos, sem necessidade de que as crianças complementem a renda familiar trabalhando no crime. "Essas crianças já evadiram a escola e têm uma dificuldade de retorno para o ambiente escolar. Muitas vezes elas vão retornar já com 20 anos. Então, tem que ter alguma política voltada para o retorno escolar desses jovens, mas também para inserção no mercado de trabalho".

Para ela, é importante que haja um acompanhamento das famílias, uma vez que o sistema socioeducativo se assemelha às prisões e gera profundos traumas nos menores que passam por medida de internação educativa. Eles são muito estigmatizados, tanto pelas suas próprias famílias, pela sua vizinhança, como também pelos policiais. A socióloga criticou também a ênfase na punição dessas crianças e adolescentes e a falta de proteção deles, que estão sendo aliciados por redes criminosas que estão lucrando com a exploração de um trabalho infantil. "É preciso, do ponto de vista das políticas culturais, estimular mais projetos de música, arte, acesso à cultura para jovens de favela e periferia, para que eles possam ampliar os seus horizontes e expandir suas possibilidades de ação, de imaginação para outros campos".

Cristina Grillo ainda lembrou que os menores são povoados por desejos de consumo. Segundo ela, a nossa identidade é muito atrelada às nossas posses, então a vontade de ter determinado celular, tênis, cordão de ouro ou roupa povoa o imaginário de todos os adolescentes de favela. "Muitas famílias não conseguem oferecer essas coisas para os seus filhos. E alguns deles acabam sendo aliciados pelo tráfico de drogas, que se utiliza dessa mão de obra, que é a mão de obra disponível".

Com base no texto sobre a inserção de menores no crime, assinale a alternativa correta:

a) O ingresso no tráfico de drogas acontece predominantemente na vida adulta, quando o indivíduo já possui autonomia e formação para tomar decisões.

b) A socióloga Carolina Grillo afirma que uma solução eficaz seria a adoção de políticas exclusivamente punitivas, para desincentivar o envolvimento dos menores com o crime.

c) De acordo com o relatório da Unicef, a idade média de ingresso no crime é de 18 anos, indicando que apenas adultos participam das atividades ilícitas.

d) A socióloga defende que o sistema socioeducativo é eficiente, pois garante a reintegração imediata dos jovens ao mercado de trabalho e ao ambiente escolar.

e) Segundo Carolina Grillo, a falta de escolas em tempo integral e atividades extracurriculares contribui para o aliciamento de menores por redes criminosas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário